quinta-feira, 10 de março de 2016

O que é inclusão?

É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.



O Papel da Libras na Inclusão do Surdo

              A língua de sinais no âmbito acadêmico é reconhecidamente uma língua de modalidade viso – espacial, com todas as condições e características de uma língua viva. Como tal é transparente e icônica, o que significa que mesmo os que não a dominam são capazes de compreendê-la, ainda que superficialmente.
Além disso, não há dúvida que a língua de sinais é a língua natural do surdo, devendo toda a sociedade unir esforços no sentido de oferecer as condições necessárias para que esta língua seja difundida em todo o país, tanto quanto ocorre com línguas estrangeiras.         
No caso brasileiro, esta língua é intitulada Libras (Língua Brasileira de Sinais). A mesma vem sendo difundida desde 1857 e tem sua origem na língua de sinais francesa, sendo trazida para o Brasil através do Conde francês Ernest Huet que era surdo. Aqui, o conde adaptou os sinais franceses, dando origem à Libras. Este sistema foi amplamente difundido e assimilado no Brasil. No entanto, a oficialização em lei da Libras só ocorreu um século e meio depois, em abril de 2002 - nesse período, o Brasil trocou a monarquia pela república, teve seis Constituições e viveu a ditadura militar.
O longo intervalo deve-se a uma decisão tomada no Congresso Mundial de Surdos, na cidade italiana de Milão, em 1880. No evento, ficou decidido que a língua de sinais deveria ser abolida, ação que o Brasil implementou em 1881 (BRASIL, 1997).
A Libras quase mudou de nome e só voltou a vigorar em 1991, no Estado de Minas Gerais, com uma lei estadual. Só em agosto de 2001, com o Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo, os primeiros 80 professores foram preparados para lecionar a língua brasileira de sinais. A regulamentação da Libras em âmbito federal só se deu em 24 de abril de 2002, com a lei n° 10.436.
Pesquisas recentes revelam que a Libras, assim como outras línguas de sinais é comparável em complexidade e expressividade a qualquer língua oral. A Libras é estruturada a partir de unidades mínimas que formam unidades mais complexas. Possui os níveis: fonológico, morfológico, sintático e semântico. Como toda e qualquer língua, aumenta seu vocabulário com novos sinais em resposta às mudanças sociais, culturais e tecnológicas. E ainda, como as outras línguas variam de país para país, e sofrem também variações regionais dentro do mesmo território.

A Libras é composta de um alfabeto manual e de expressões faciais e corporais que se combinam formando algo semelhante aos fonemas e morfemas da língua portuguesa. Os elementos que constituem um sinal são chamados parâmetros. Os parâmetros em libras são: configuração das mãos (são formas feitas nas mãos que podem utilizar o alfabeto manual ou não); ponto de articulação (é o lugar onde incide a mão); movimentos (que podem ter ou não); orientação/direcionalidade (é a direção que o movimento assume); e expressão facial e corporal (são utilizados para alguns sinais).

Comportamento e tecnologia surda


      Há comportamentos e tecnologias incorporados na vida diária da Comunidade Surda, a maioria dos quais objetivam a comunicação, o contato do surdo com o mundo dos sons, e entre eles mesmos a distância, por meio de uma 'agenda surda' bem definida, na qual se destacam: os torpedos9, que, apesar de recentes, vêm se ampliando significativamente; a comunicação por meio de Telefones para Surdos (TS)10 ,para TS (instalados em residências, entidades privadas ou associados a telefones públicos), ou ainda, de TS para uma central de atendimento das empresas de telecomunicações, que se responsabilizam pela intermediação do contato entre uma pessoa que utiliza o TS e outra que não o utiliza (o serviço contempla chamadas tanto de TS para o aparelho convencional, como do aparelho convencional para TS), cujo número, na maioria das capitais brasileiras, é 1402. Em Porto Alegre, há a diferenciação de uma chamada de TDD para aparelho convencional, cujo número é 0800-51-7801, para uma chamada de aparelho convencional para TDD, cujo número é 0800-517802; pagers; bips; fax; a telemática (comunicação via internet por meio de e-mails, chats, listas de discussão, icq, etc); sinalização luminosa para campainhas, telefone, alarme de segurança e detector de choro de bebê; relógios de pulso e despertadores com alarmes vibratórios; legendas ou tela de intérprete na TV intérpretes in loco nas igrejas, escolas, repartições públicas, hospitais, delegacias, comércio em geral etc); adaptação da arbitragem nos esportes, substituindo os apitos por acenos e lenços; entre outros.
      Quanto à LIBRAS, cabe ressaltar a forma como os indivíduos são nela nomeados, atribuindo-se aos sujeitos características físicas, psicológicas, associadas ou não a comportamentos particulares, os mais variados, os quais personificam e, de certa forma, rotulam os indivíduos. É uma língua, como qualquer outra língua materna, adquirida efetiva e essencialmente no contato com seus falantes. Esse contato acontece, normalmente, com a participação nas Comunidades Surdas, aonde a Cultura Surda vai pouco a pouco florescendo e, ao mesmo tempo, se diversificando em seus hábitos e costumes, que, pelos contextos distantes e diferenciados, refletem regionalismos culturais da Comunidade Surda. Nesse sentido, é fundamental o contato da criança surda com adultos surdos e outras crianças surdas para que haja um input lingüístico favorável à aquisição da língua, possibilitado por um ambiente de imersão em língua de sinais.

Você sabia?

NO DIA-A-DIA DA PESSOA SURDA, HÁ JOGOS, TÉCNICAS, BRINCADEIRAS E COMPORTAMENTOS INTERATIVOS, ORA ADAPTADOS DE JOGOS DE OUVINTES, ORA CRIADOS PELA PRÓPRIA COMUNIDADE SURDA.
EX:
v  O jogo “escravos de Jó” foi adaptado por normalistas Surdos no curso normal do programa Surdo Educador, privilegiando o ritmo com que as “pedrinhas” são passadas de  um a outro em detrimento da melodia;
v  A conhecida técnica do telefone sem fio também foi adaptada, de forma que os participantes fazem uma fila indiana, e a pessoa que dita a frase ocupa a última posição na  fila cutuca o participante à sua frente, o qual se vira e vê a frase falada em língua de sinais. Em seguida, este cutuca o participante à sua frente, o qual se vira e repete  a frase que lhe foi passada. Assim, sucessivamente, repete-se a frase até o final da fila, quando o último repete a todos a frase que recebeu;
v  A forma como rezam a oração do Pai Nosso também é interessante: enquanto ouvintes se dão as mãos, os surdos unem os seus pés para poderem partilhar em “voz alta” (com a língua de sinas) da oração universal do cristianismo.

Cultura Surda na educação de surdos

     Antes de se tratar das implicações da Cultura Surda na educação e vice-versa, é relevante ressaltar que a cultura de uma dada sociedade não se constrói a partir dos processos de escolarização dos conhecimentos, entretanto tais processos contribuem para a constituição de diferentes significados culturais. Longe de minimizar o significado da língua de sinais na vida do surdo, é interessante ressaltar que pesquisas sustentam que 'se uma criança surda puder aprender a língua de sinais da comunidade surda na qual será inserida, ela terá mais facilidade em aprender a língua oral-auditiva da comunidade. A possibilidade de ser plenamente multicultural é ter oportunidades nos dois mundos, surdo e ouvinte. A língua de sinais, uma vez entendida como a língua materna do surdo, será, dentro da escola, o meio de instrução por excelência.
     A instrução deve privilegiar a 'visão', por meio do ensino da língua portuguesa escrita, que, por se tratar de disciplina de segunda língua, deve ser ministrada em turma exclusiva de surdos. 'É preciso que os profissionais envolvidos com o ensino de língua portuguesa para surdos, conscientes dessa realidade, predisponham-se a discutir constantemente esse ensino, buscando alternativas que permitam ao surdo usufruir do seu direito de aprender com igualdade, entendendo-se, no caso do surdo, que para ser 'igual' é preciso, antes, ser diferente. Recomenda-se que a educação dos surdos seja efetivada em língua de sinais, independentemente dos espaços em que o processo se desenvolva.      Assim, paralelamente às disciplinas curriculares, faz-se necessário o ensino de língua portuguesa como segunda língua, com a utilização de materiais e métodos específicos no atendimento às necessidades educacionais do surdo. Nesse processo, cabe ainda considerar que os surdos se inserem na cultura nacional, o que implica que o ensino da língua portuguesa deve contemplar temas que contribuem para a afirmação e ampliação das referências culturais que os identificam como cidadãos brasileiros e, conseqüentemente, com o mundo da lusofonia, exatamente como ocorre na disciplina língua portuguesa ministrada para ouvintes, que têm a língua portuguesa como língua nativa.

     As crianças surdas desconhecem os processos e os produtos que determinados grupos de surdos geram em relação ao teatro, ao brinquedo, à poesia visual e à literatura em língua de sinais em geral, à tecnologia etc. Dessa forma, deve-se proporcionar às crianças surdas o contato com processos e produtos elaborados por grupos de surdos, como teatro, brinquedo, poesia visual, literatura em língua de sinais, tecnologia. Elas têm 'o direito à entrada na Comunidade Surda e ao acesso a seus processos culturais, sem nenhum condicionamento. As políticas lingüísticas, do conhecimento, das identidades são, por sua vez, uma parte indissolúvel dessas potencialidades ou direitos. Cabe à família e à escola contribuir para que esses direitos sejam respeitados. O processo de alfabetização de surdos tem duas chaves preciosas: o relato de estórias e a produção de literatura infantil em sinais (não sistemas de comunicação artificiais, português sinalizado, ou qualquer outra coisa que não seja a Língua de Sinais Brasileira (LSB).
     Recuperar a produção literária da comunidade surda é urgente para tornar eficaz o processo de alfabetização. A produção de contadores de estória, de estórias espontâneas e de contos que passam de geração em geração são exemplos de literatura em sinais que precisam fazer parte do processo de alfabetização de crianças surdas. O papel do surdo adulto na educação se torna fundamental para o desenvolvimento da pessoa surda. É preciso produzir estórias utilizando-se configurações de mãos específicas, produzir estórias em primeira pessoa sobre pessoas surdas, sobre pessoas ouvintes, produzir vídeos de produções literárias de adultos surdos. Uma outra questão relevante na alfabetização de surdos diz respeito à sua escrita. Em princípio, vem-se, há anos, no Brasil, alfabetizando surdos em língua portuguesa e reforçando a Escrita Surda numa interlíngua que apresenta, geralmente, a estrutura da língua de sinais com vocabulário de língua portuguesa.
     
     Reflexões sobre a alfabetização de surdos sugerem, entretanto, que a alfabetização destes deva se realizar, inicialmente, em língua de sinais. E uma proposta de ensino ainda incipiente no Brasil, mas, sem dúvida, um caminho que emerge aos poucos e timidamente, por meio da tecnologia oferecida pelo signwriting™ ou língua escrita de sinais. Acredita-se que o signwriting é uma forma de agregar as tecnologias educacionais empregadas no ensino de surdos, além de tornar perenes e sólidas suas idéias, confirmando, reforçando e ampliando a 'marca surda' de pertinência no mundo e, quem sabe, por meio dela, a História Surda se construa e se sustente sobre a 'voz' da maioria surda, definindo-se e estabelecendo, enfim, a Cultura Surda pelo próprio surdo, por ideal, por opção, por convicção, por SER SURDO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
— ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS, Caminhos para a Prática Pedagógica, vol1.
—FELIPE, t. & MONTEIRO, M. LIBRAS EM CONTEXTO. BRASIL: MEC/SEESP, 2006.

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